quarta-feira, 12 de março de 2008

Amor...

"Amor não resiste a tudo, não.
Amor é jardim.
Amor enche de erva daninha.
Amizade também, todas as formas de amor."

Caio Fernando Abreu

quarta-feira, 5 de março de 2008

Para Matar Um Grande Amor

Muito se louvou a arte do encontro, mas poucos louvaram a arte do adeus. No entanto, não há gesto tão profundamente humano quanto uma despedida. É aquele momento em que renunciamos não apenas à pessoa amada, mas a nós mesmos, ao mundo, ao universo inteiro. O amor relativiza; a renúncia absolutiza. E não há sentimento mais absoluto do que a solidão em que somos lançados após o derradeiro abraço, o último e desesperado entrelaçar de mãos.

Arrisco mesmo a dizer: só os amores verdadeiros se acabam. Os que sobrevivem, incrustados no hábito de se amar, podem durar uma vida inteira e podem até ser chamados de amor mas nunca foram ou serão um amor verdadeiro. Falta-lhes exatamente o Dom da finitude, abrupta e intempestiva. Qualidade só encontrável nos amores que infundem medo e temor de destruição. Não se vive o amor; sofre-se o amor. Sofre-se a ansiedade de não poder retê-lo, porque nossas cordas afetivas são muito frágeis para mantê-lo retido e domesticado como um animal de estimação. Ele é xucro e bravio e nos despedaça a cada embate e por fim se extingue e nos extingue com ele. Aponta numa única direção: o rompimento. Pois só conseguiremos suportá-lo se ocultarmos de nossos sentidos o objeto dessa desvairada paixão.

Mas não se pense que esse é um gesto de covardia. O grande amor exige isso. O rompimento é sua parte complementar. Uma maneira astuciosa de suspender a tragédia, ditada pelo instinto de sobrevivência de cada um dos amantes. Morrer um pouco para se continuar vivendo. E poder usufruir daquele momento mágico, embebido de ternura, em que a voz falseia, as mãos se abandonam e cada qual vê o outro se afastar como se através de uma cortina líquida ou de um vitral embaçado.

Há todo um imaginário sobre os adeuses e as separações, construído pela literatura e pelo cinema. O cenário pode ser uma estação de trem, um aeroporto (remember Casablanca), um entroncamento rodoviário. Pode ser uma praça ou uma praia deserta. Falésias ou ruínas de uma cidade perdida. Pode estar garoando ou nevando, mas vento é imprescindível. As nuvens devem revolutear no horizonte, como a sugerir a volubilidade do destino. Os cabelos da amada, longos e escuros, fustigam de leve seus lábios entreabertos. Há sutis crispações, um discreto arfar de seios. E os olhos, ah!, os olhos... A visão é o último e o mais frágil dos sentidos que ainda nos une ao que acabamos de perder.

Uma grande dor, uma solidão cósmica, um imenso sentimento de desterro. Que se curam algum tempo depois com um amor vulgar, desses feitos para durar uma vida inteira...

Jamil Snege - Para Matar Um Grande Amor

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Encerrando Ciclos‏

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações?
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado.
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco.
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar.
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem.
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se.
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais.
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal".
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te :

"Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão"

Fernando Pessoa - Encerrando Ciclos‏

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Ela Não Te Merece

Meu amigo Aldrovando Perneira estava aborrecido e magoado. Haviam feito uma baita intriga, pura maledicência, com a garota com quem estava de amassos há uns três meses e já, cá entre nós, gamadão por ela. Chorou pitangas comigo, que, por mais idoso, ele supõe ser mais sábio. Eu tenho também muita raiva de maledicência e de se abusar das ausências para ofender. Controlei o meu "você tem toda a razão" e lhe disse:

"Acredite, Aldrovando, quem não o adivinha não o merece. Disfarçada de lesma, a verdade anda muito rápido. Basta-nos o merecer, ainda que, depois, o sincero testemunho de alguém que ajude a desfazer a maledicência. Esta é filha da inveja, de disputa inconsciente ou da maldade. Não é importante que nos elogiem. Ou que ataquem. Importante é haver quem dê o testemunho da verdade. Ainda que sozinho ou minoria, o injustiçado crescerá no conceito alheio."

"Como é que é?" - perguntou. "Que negócio é esse de me adivinhar"?

"Abra a sua cabeça, meu amigo" - retruquei. "Sim, adivinhar. Só gosta de nós quem, de alguma maneira, perceptiva, subconsciente, adivinha como somos. Isso é um privilégio. Por isso, quem não o adivinhar, se você reparar bem, não o merece. Ou não merece o seu aborrecimento, isso por que, e é voz corrente, nem Jesus agradou a todos. Esperar apenas apreço e consideração é ser imaturo ou carente. Mas fazer por onde merecer um testemunho sincero em seu favor, unzinho só que seja, já é obter a vitória contra a ferrugem da alma do ou da maledicente."

Ele me olhou como se compreendesse, animei-me com a minha própria descoberta feita naquele momento e, vaidoso, prossegui:

"O homem é animal restritivo. Algo, nele, fecha-se para o outro. O outro é sempre mistério, desafio, procura e contradição. Para Sartre, o inferno é o outro. Pessoalmente, não concordo com ele, mas entendo o que quis dizer. Ele quis dizer que o ser humano é o único animal que julga, seja corretamente, ou não. Há que desistir de esperar a compreensão plena, bastar-se com uma aceitação apenas parcial do que somos e alegrar-se quando alguma simpatia se estabelecer. Simpatia jamais será regra, é exceção. O vitupério morre com seu autor, em pouco tempo. Paciência, Aldrovando, paciência. Os simpáticos profissionais são superficiais."

Olhei para ele, duas lágrimas rolavam. "Mas é que ela, irada, já me deu o fora. E o pior é que o desgramado falou mal dela também. Disse que me corneou."

Artur da Távola - Ela Não Te Merece

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Tosse, tosse, tosse...

Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

Manuel Bandeira - Pneumotórax

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

Querido diário. LOL

Bebidas flamejantes fazem mal à saúde.

Pessoas brigam do nada.

O pão de açucar fecha no carnaval.

Segunda-feira é melhor que sexta-feira e sábado.

Conheci o sabor de uma quase-tequila e outras coisas aê.


Quebrando a sessão cult. HAHAHA

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Compreensão

"Quando as pessoas falam de forma muito elaborada e sofisticada, ou querem contar uma mentira, ou querem admirar a si mesmas. Ninguém deve acreditar em tais pessoas. A fala boa é sempre clara, inteligente e compreendida por todos."

Leon Nikolaievitch Tolstoi


Alguém pensa em politicagens ao ler essa citação do Tolstoi? hahaha